Motorista de ônibus quer inspirar mulheres a conquistarem sonhos

Ingride Pinheiro, 29 anos, dirige ônibus cor de rosa e tem cabine decorada.
‘Quebrando barreiras’, diz ela sobre a escolha da profissão no Amapá.Ingride-1

Inspirar as mulheres a irem atrás dos sonhos e desejos é uma das missões que a amapaense Ingride Pinheiro, de 29 anos, acredita ter. Motorista de ônibus públicos há 7 anos em Macapá, ela decidiu se dedicar e ser feliz na profissão que ela se identifica, encarando preconceitos e assédio numa área onde a maioria é de homens.

“Eu mostro para as mulheres que nós somos capazes. Não é porque sou mulher que eu não sou capaz de fazer o que eu quero. Todas nós somos capazes de dirigir um carro desse tamanho, desse porte. Então eu acredito que ajudo as mulheres para que elas se espelhem em mim, vendo que eu consegui estar num lugar que eu gosto tanto”, disse Ingride.

A amapaense é casada há 5 anos e não tem filhos, por enquanto, segundo ela. O marido é uma das pessoas que, para ela, são os maiores incentivadores na conquista dos sonhos.

“Ele gosta, ele me conheceu trabalhando assim. Ele me admira muito, me dá muita força e principalmente, me incentiva a fazer as coisas que eu gosto. Isso é muito importante”, contou.

Um bom batom nos lábios, pele bem produzida, uniforme arrumado, o óculos de sol e o sorriso no rosto são suficientes para Ingrid encarar as 7 horas de trabalho em 6 dias na semana em frente ao volante.

“Sobre eu trabalhar sempre bem arrumada, de me maquiar, eu sempre fiz isso, não foi pela ocasião. Sempre que você entrar aqui comigo, eu vou estar sempre bem elegante. A gente tenta, apesar de ser difícil, porque é muito quente, que não ajuda a gente a se manter bonita, mas a gente tenta, né?”, falou Ingrid.

E não é somente ela que se produz para receber os usuários. Os protetores do volante e do banco e as cortinas da cabine de direção são na cor preferida dela: rosa, assim como o ônibus que ela comanda há 5 meses.

O transporte coletivo, que sai da Zona Norte e vai até o Centro de Macapá, recebeu nova decoração em outubro de 2016, com adesivos rosa, alusivos à campanha de prevenção do câncer de mama e colo do útero.

Os passageiros percebem a diferença no comando feminino do volante. A manicure Iracema Cabral, de 58 anos, usa a linha que Ingride faz diariamente, saindo do bairro Renascer, Zona Norte.

“Ela dirige divinamente bem. É uma pessoa muito educada, trata os clientes do ônibus muito bem. Acho que tem diferença quando é ela. O homem é mais bruto, alguns não tratam os idosos bem, e ela não. Ela trata muito bem a gente”, comentou Iracema.

Profissão
Ingride diz que ser motorista de ônibus é uma marca na vida dela, profissão que escolheu aos 22 anos, mas que já se identificava desde criança.

“Já tive outras experiências, mas como eu procurava algo que me agradasse, eu busquei esse ramo. Porque o bom de tudo é a gente fazer aquilo que a gente gosta. Não foi falta de opção. Eu escolhi exercer essa profissão”, descreveu a amapaense.

Segundo ela, foi difícil conseguir se tornar motorista de ônibus, justamente por ser mulher. Mas, não deixando de estudar e melhorar o desempenho no veículo, ela diz que consegue driblar os preconceitos.

“Na época que eu entrei era muito difícil, ninguém queria dar oportunidade para uma mulher. Mas o dono da empresa apostou em mim e me deu a oportunidade. Foi difícil, mas eu fui insistente, não desisti, e hoje estamos quebrando barreiras. Pelo fato de eu ser mulher, é uma profissão que as pessoas ainda se assustam. Hoje ainda, apesar de eu estar todo esse tempo e ter também outras mulheres na área, ainda causa um espanto”, afirmou Ingride.

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Os respeitos dos passageiros e colegas de trabalho foi uma das conquistas lembradas pela amapaense. A relação diária criou até mesmo laços com eles.

“No meu dia a dia não tem mais tantas dificuldades. No começo tinha o assédio pelo fato de ser mulher, algumas pessoas acham que a gente está vulnerável, mas não é assim que funciona as coisas. As pessoas veem a gente trabalhando todo dia, então não causa mais o impacto da pessoa querer falar alguma coisa. Então começaram a ter respeito, não só comigo, mas com as colegas também. Hoje os passageiros sentem falta quando eu não venho”, contou.

Fonte: G1